Golpe de falsas passagens aéreas causa prejuízos a consumidores pelo Brasil

Ao clicar no link, você é redirecionado para um site idêntico ao da companhia aérea. Na pressa, finaliza a compra.

Postado em 01/11/2024
Golpe de falsas passagens aéreas causa prejuízos a consumidores pelo Brasil
Reprodução A Redação
Avatar
Por Gabrielle AndradeUx Writer | Jornalista

A oferta parece irresistível. Você está rolando seu feed no Instagram quando, de repente, uma promoção de uma "companhia aérea" chama atenção: “Somente hoje, passagens para destinos turísticos por R$ 100, R$ 200”. A propaganda é envolvente, com um slogan atrativo, cores e imagens que seguem a identidade visual da marca conhecida. Há um link em destaque com uma chamada urgente: "últimas horas!"

Ao clicar no link, você é redirecionado para um site idêntico ao da companhia aérea. Na pressa, finaliza a compra. Um bilhete ou voucher é emitido, igual a uma passagem convencional. Só no momento do embarque o golpe é descoberto: o site era falso, com um endereço eletrônico levemente alterado. A compra, feita exclusivamente via Pix, foi direcionada para um CPF. Não há viagem, apenas o prejuízo.

Você não é o único alvo: um levantamento do Senado Federal, publicado em 1º de outubro, revela que golpes digitais atingiram 24% dos brasileiros com mais de 16 anos nos últimos 12 meses. Isso representa mais de 40 milhões de pessoas que sofreram prejuízos financeiros devido a crimes cibernéticos.

Um dos golpes recentes é justamente o da passagem falsa, uma variação de esquemas com links maliciosos, projetados para roubar dados e acessar contas das vítimas. Nesse caso, os criminosos induzem a vítima a fazer pequenas transferências para contas de laranjas sem que percebam.

Esses casos estão cada vez mais frequentes e sofisticados. Em 29 de outubro, foi desmascarada a falsa promoção “Madruga Latam”, que oferecia passagens aéreas a partir de R$ 122. O anúncio circulava nas redes sociais e redirecionava para um site falso, enganando consumidores em busca de ofertas.

Prevenção

O delegado Caio Menezes, do Grupo de Repressão a Estelionato e Outras Fraudes, da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Gref/Deic), orienta sobre como evitar cair em golpes de passagens aéreas. “Temos visto muitas fraudes divulgadas em redes sociais, especialmente no Instagram, onde você clica e é direcionado para um site falso. Uma das principais medidas de prevenção é evitar compras por meio de links desconhecidos”, explica.

Advogado especializado em Direito Aéreo, Guilherme Brito acrescenta que, ao usar o celular, é recomendável utilizar o aplicativo oficial das companhias aéreas para evitar links maliciosos: “Gol, Azul, Latam, todas têm aplicativos oficiais. Ao clicar em um link não verificado, você pode acabar em um site falso. Fique atento, pois sites clonados geralmente têm erros sutis no endereço, como uma letra a mais, por exemplo, ‘Latamm’”.

Outra recomendação do advogado é desconfiar de promoções exclusivas para pagamento via Pix. “Companhias aéreas oferecem diversas opções de pagamento, como boleto e cartão de crédito. Desconfie se a única forma de pagamento oferecida for Pix”, orienta. Ele destaca ainda que, mesmo optando pelo Pix, é importante verificar o destinatário da transação, que deve ser um CNPJ, e não um CPF: “Empresas legítimas sempre utilizam o CNPJ como beneficiário”.

Além disso, Brito alerta para os riscos de fornecer dados em sites não confiáveis. “Evite preencher informações pessoais como número do cartão de crédito, telefone e endereço antes de ter certeza de que a transação é segura”, conclui.

Outro passo essencial, orienta o delegado, é pesquisar e comparar preços: se uma oferta estiver muito abaixo do normal, verifique outros sites. É improvável que, mesmo em promoção, uma passagem custe bem abaixo do valor de mercado.

O que fazer caso seja vítima

Se você perceber que caiu em um golpe, o delegado Caio recomenda que a primeira medida seja entrar em contato com sua instituição financeira para tentar bloquear ou reverter a transferência. “Mesmo em casos de Pix, atualmente há mecanismos que permitem contestação em até 24 horas”, explica. Em seguida, é importante registrar a ocorrência na delegacia.

Muitas vítimas, ao perceberem o golpe, especialmente quando o prejuízo é pequeno, sentem vergonha e acabam não denunciando. O delegado reforça que a denúncia é fundamental, pois o volume de ocorrências e os detalhes fornecidos ajudam a polícia a desmantelar as quadrilhas.

“Quanto mais informações tivermos para cruzar dados, maior a chance de sucesso nas investigações e de identificar os responsáveis. Como os criminosos costumam usar diversas contas, os dados cruzados de várias vítimas aumentam significativamente as chances de êxito”, destaca.

O advogado Guilherme Brito orienta que, ao identificar o golpe, a vítima reúna toda a documentação disponível, como recibos e capturas de tela do site fraudulento, registre a queixa e procure um advogado especializado, que avaliará as possibilidades de reaver os valores judicialmente.

De acordo com o delegado, esse tipo de golpe se enquadra no Artigo 171 do Código Penal e tem pena agravada, podendo aumentar de 1 a 3 anos quando praticado contra idosos. Em caso de condenação, a pena para o estelionato pode variar de 4 a 8 anos e pode ser cumulativa com a de associação criminosa, que tem pena máxima de 8 anos.

 

informações A Redação 

Mais sobre Brasil