Penalidade máxima: veja o que se sabe sobre a nova fase da operação que investiga manipulação de jogos de futebol

Investigação do Ministério Público de Goiás revela que grupo criminoso oferecia dinheiro para jogadores de futebol receberem punições. Integrantes do esquema lucravam em sites de apostas esportivas.

Postado em 29/11/2023
Penalidade máxima: veja o que se sabe sobre a nova fase da operação que investiga manipulação de jogos de futebol
Reprodução G1 Goiás
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Por GabrielleEditora chefe e Jornalista

Desde o final do ano passado, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) investiga fraudes em jogos de futebol. A ação recebeu o nome de Penalidade Máxima e, na terça-feira (28), deu início à sua terceira fase, levantando novas provas sobre um dos maiores escândalos do futebol brasileiro. Veja abaixo tudo que se sabe sobre essa nova fase da investigação.

Veja o que se sabe sobre a 3ª fase da Operação Penalidade Máxima

Mandados cumpridos

Quando os crimes aconteceram

Quem são os jogadores suspeitos?

O que dizem os times

Quais fraudes são investigadas

Como funciona o esquema

Como a operação começou

Outras fases da investigação

1. Mandados cumpridos

Nesta terceira fase da operação, foram cumpridos 10 mandados de busca e apreensão em Goiânia (Goiás), Bataguassu (Mato Grosso do Sul), Campina Grande (Paraíba), Nilópolis (Rio de Janeiro), Santana do Parnaíba (São Paulo), São Paulo, Volta Redonda (Rio de Janeiro) e Votuporanga (São Paulo).

Um vídeo obtido com exclusividade pelo g1 mostra o momento em que os policiais cumprem um dos mandados em um apartamento no bairro Parque Amazônia, em Goiânia (assista acima).

Operação contra supostas fraudes em jogos de futebol cumpre mandados em Goiás e mais quatro estados

2. Quando os crimes aconteceram

Estão em investigação possíveis fraudes nos resultados de jogos que aconteceram no segundo turno do Campeonato Brasileiro e também nos campeonatos estaduais, em janeiro e fevereiro. Veja abaixo quais são as partidas citadas pelo MPGO:

Avaí x Flamengo, pela Série A do Brasileirão de 2022;

Náutico x Sampaio Corrêa, pela Série B do Brasileirão de 2022;

Náutico x Criciúma, pela Série B do Brasileirão de 2022;

Goiânia x Aparecidense, pelo Goianão de 2023;

Goiás x Goiânia, pelo Goianão de 2023;

Nacional x Auto Esporte, pelo campeonato paraibano de 2023; e

Sousa x Auto Esporte, pelo campeonato paraibano de 2023.

Jogos de Goiás e Flamengo estão entre os investigados em nova fase de operação que apura fraudes em partidas

3. Quem são os jogadores suspeitos?

Romário Hugo dos Santos, suspeito de integrar um esquema que aliciava jogadores para manipular partidas de futebol e ganhar dinheiro em sites de apostas foi citado novamente pelo MPGO durante a terceira fase da ação, conforme apurou o Globo Esporte.

Dessa vez, as investigações indicam que ele visitou o hotel onde jogadores do time do Avaí estavam antes de um partida contra o Flamengo, em 2022.

O g1 não conseguiu localizar a defesa de Romário Hugo para solicitar um posicionamento sobre o caso até a última atualização desta reportagem.

As evidências levantadas pelo MPGO surgiram por meio de mensagens obtidas no celular de Romário. Em conversa com a namorada, ele diz que vai ganhar R$ 150 mil com as fraudes. Na sequência, menciona um esquema armado para o jogo entre Flamengo x Avaí, em que dois zagueiros e um goleiro estariam envolvidos.

O texto diz: “Operação Avaí x Flamengo - tomar cinco gols, R$ 800 mil adiantados no Pix, na hora! Encontrar Marlon (meu fechamento) junto aos jogadores, no HOTEL HILTON COPACABANA às 7:00 da manhã!” e cita “dois zagueiros e um goleiro”. A namorada responde enviando uma passagem aérea para o Rio de Janeiro.

A partida em questão aconteceu na última rodada do Brasileirão de 2022 e terminou em 2 a 1 para o Avaí.

Conforme o MPGO, um dos objetivos da terceira fase da operação é aprofundar a investigação sobre o homem citado como "fechamento".

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4. O que dizem os times

O g1 pediu um posicionamento aos clubes citados como envolvidos em partidas com resultados possivelmente fraudados.

O Criciúma informou que o time não foi acionado e o jogador expulso da partida era do Náutico.

O Sousa explicou que não foi notificado e está tranquilo porque não compactua com essa prática e estará à disposição da Justiça para qualquer esclarecimento.

O Aparecidense disse não ter conhecimento das investigações e ressaltou o comprometimento do clube em um trabalho limpo e respeitoso. Informou também que já solicitou cópia e informações das investigações.

Por telefone, a assessoria de imprensa do Goiás informou que não irá se manifestar sobre o assunto.

O Avaí disse que está à disposição das autoridades para esclarecer os fatos e que o clube repudia qualquer forma de manipulação que possa prejudicar o jogo.

Os demais clubes não responderam até a última atualização desta reportagem.

5. Quais fraudes são investigadas

O objetivo da investigação é apurar a prática de condutas ilícitas que podem configurar organização criminosa para fraudar resultados de partidas de futebol. Os crimes estão previstos na Lei nº 12.850/13 e nos arts. 198 e 199 da Lei Geral do Esporte.

A suspeita é de que um grupo criminoso oferecia dinheiro para jogadores de futebol receberem punições, como cartão amarelo, vermelho, cometimento de pênalti ou placar parcial na partida. Desta forma, os integrantes do esquema lucravam em sites de apostas esportivas.

6. Como funciona o esquema

Segundo o MPGO, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que cometessem lances específicos nos jogos. Os lances incluem um número determinado de faltas, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time.

As investigações indicam que o esquema era dividido em quatro núcleos: de apostadores, financiadores, intermediadores e administrativos.

"Núcleo Apostadores": era formado por responsáveis por contatar e aliciar jogadores para participação no esquema delitivo. Eles também faziam pagamentos aos jogadores e promoviam apostas nos sites esportivos.

"Núcleo Financiadores": eram os responsáveis por assegurar a existência de verbas para o pagamento dos jogadores aliciados e também nas apostas manipuladas.

"Núcleo Intermediadores": eram responsáveis por indicar contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e atletas aptos a promover a manipulação dos eventos esportivos.

"Núcleo Administrativo": era responsável por fazer as transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e também em benefício de jogadores cooptados.

O MPGO também diz que o grupo criminoso possuía uma série de estratégias para cometer as fraudes. Entre elas, o uso de robôs que entravam em até 35 contas ao mesmo tempo para fazer apostas.

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Outro método era usar contas nos sites de apostas em nome de laranjas, que ganhavam porcentagens depois pelo empréstimo. Para manter apostas de alto valor sem chamar a atenção, os criminosos precisavam fazer vários jogos com valor menor.

7. Como a operação começou

A Operação Penalidade Máxima teve início no final de 2022, quando o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro.

Romário recebeu um sinal de R$ 10 mil, e só teria os outros R$ 140 mil após a partida, com o pênalti cometido. À época, o presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, que também é policial militar, investigou o caso e entregou as provas ao MP-GO.

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8. Outras fases da investigação

A primeira fase da operação foi realizada em fevereiro de 2023 e serviu para que a investigação mostrasse como o esquema funcionava e quais eram alguns dos suspeitos.

Bruno Lopez de Moura, apostador detido na primeira fase, foi visto pelo Ministério Público como líder da quadrilha no esquema de manipulação de resultados. O órgão também pediu a condenação do grupo envolvido na manipulação, além do ressarcimento de R$ 2 milhões aos cofres públicos por danos morais coletivos.

Em agosto deste ano, a Justiça revogou a prisão preventiva de Bruno e ele foi solto. Na decisão, o juiz definiu a prisão como “desnecessária”. Segundo o juiz, após a denúncia, as investigações não constataram o envolvimento dele em outras práticas criminosas.

O g1 não localizou a defesa de Bruno até a última atualização desta reportagem.

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Na segunda fase, o Ministério Público aprofundou as investigações, descobrindo que o grupo também pedia aos jogadores que eles tomassem cartões amarelo e vermelho, além da derrota do próprio time.

Vale dizer que em todas as fases da ação, o MPGO ofereceu denúncia somente ao grupo de apostadores e os jogadores aliciados por eles. Os clubes e as empresas de apostas esportivas são tratadas como vítimas das ações. Com isso, mesmo com a condenação dos atletas envolvidos, não há previsão de que os clubes sejam punidos criminalmente ou desportivamente.


informações G1 Goiás

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